Opiniões de um comunista sobre o «<em>combate à pobreza</em>» (4)
A listagem exaustiva dos agentes da nova ordem é difícil de estabelecer. Tanto mais que, consideradas uma a uma, parte destas instituições privadas ainda não totalmente sujeitas a uma rígida disciplina central, desenvolvem um trabalho socialmente válido. Perante a vergonhosa demissão dos poderes públicos, mal iria a muitos núcleos populacionais pobres e marginalizados se elas não existissem. E, frequentemente, os homens e as mulheres que as servem como assalariados ou voluntários revelam capacidade de sacrifício pelos outros e pelo bem comum.
Não é isso o que está em causa. O que é motivo de alarme são os níveis de consciência cívica e política dessa dedicação. E é o crescente grau de dependência doutrinária que caracteriza essa intervenção católica na sociedade. Aliás, grande parte dessas culpas é a nós que cumpre aceitar. As forças democráticas portuguesas têm fracos níveis de esclarecimento e de comunicação. Poderiam falar uma linguagem que conhecem mas que, por oportunismo, calam. Dar um pão a um pobre não é suficiente. O que importa é extinguir a fome e as suas origens. Definir atitudes transparentes perante esta questão central. Recusar pactuar com a parte da sociedade civil cuja sagacidade política consiste em manobrar entre os opostos, acumulando riqueza, marcando lugar na assembleia dos poderosos e prometendo aos pobres o paraíso no céu.
De Marx a Lénine
Entre a data da publicação do primeiro trabalho de fundo de Karl Marx, em 1884 (A Sagrada Família), e a morte de V. I. Lenine (1924) decorreram apenas 40 anos. Nesse curto espaço de tempo reuniu-se o essencial dos estudos teóricos do marxismo-leninismo como filosofia política e económica de intervenção dotada de um projecto de transformação radical da sociedade. Junte-se a esses dois grandes representantes do materialismo dialéctico um outro lúcido teórico de uma nova economia política - F. Engels - e teremos encontrado o grupo dinamizador das propostas políticas que continuam a agitar as consciências. Esse período permanece como fase nuclear da afirmação teórica do movimento operário, de construção das bases de uma sociedade sem classes. Escolha-se de entre os milhares de páginas disponíveis, apenas uma tese das muitas que foram apresentadas e defendidas. A que descreve o sistema capitalista na sua evolução e define a fase imperialista do capital como estádio supremo do capitalismo.
O capitalismo pré-monopolista foi-se gradualmente transformando num sistema monopolista com expressão política e económica. Legitimada a propriedade privada, o Estado apropriou-se das terras produtivas e entregou-as às classes senhoriais dominantes. Através das guerras de agressão, o sistema expandiu-se territorialmente e acumulou riquezas. Geriu, em benefício dos privilegiados, as revoluções tecnológicas em cadeia, que foram e são fruto do trabalho colectivo e da inteligência humana. Com a criação e exploração intensa dos monopólios, concentrou recursos imensos que a seguir fundiu com o capital industrial, dando origem à formação do capital financeiro e à partilha monopolista do mundo. O governo da sociedade ficou entregue a oligarquias ou famílias de ricos. Instalou-se, desde então, a falsa noção da riqueza e da pobreza como categorias naturais sobrepostas à vontade humana. Nada havia a fazer. Os ricos eram os fortes, os escolhidos, os vencedores, os mais inteligentes e capazes. Os pobres jamais poderiam negar a sua condição natural de fracos e de servidores.
Esta filosofia do desequilíbrio sistematizou-se facilmente nas sociedades feudais, dotando-as de fortes estruturas de direcção. A igreja católica difundiu essa atitude mental. O capitalismo agigantou-se, modernizou-se, resolveu alguns dos seus antagonismos internos mas manteve insolúvel a sua contradição fundamental. É-lhe necessário expandir os seus mercados e manter ou aumentar as taxas de lucro das mercadorias que produz. Para conseguir estes objectivos, necessita de mão de obra barata e de, simultaneamente, estimular a formação de massas humanas com crescente capacidade de compra. Como, porém, conciliar no mercado, força de trabalho barata, concorrência, desemprego, pobreza e lucro? Como privatizar a produção e socializar (ou globalizar) os mercados ?
Não é isso o que está em causa. O que é motivo de alarme são os níveis de consciência cívica e política dessa dedicação. E é o crescente grau de dependência doutrinária que caracteriza essa intervenção católica na sociedade. Aliás, grande parte dessas culpas é a nós que cumpre aceitar. As forças democráticas portuguesas têm fracos níveis de esclarecimento e de comunicação. Poderiam falar uma linguagem que conhecem mas que, por oportunismo, calam. Dar um pão a um pobre não é suficiente. O que importa é extinguir a fome e as suas origens. Definir atitudes transparentes perante esta questão central. Recusar pactuar com a parte da sociedade civil cuja sagacidade política consiste em manobrar entre os opostos, acumulando riqueza, marcando lugar na assembleia dos poderosos e prometendo aos pobres o paraíso no céu.
De Marx a Lénine
Entre a data da publicação do primeiro trabalho de fundo de Karl Marx, em 1884 (A Sagrada Família), e a morte de V. I. Lenine (1924) decorreram apenas 40 anos. Nesse curto espaço de tempo reuniu-se o essencial dos estudos teóricos do marxismo-leninismo como filosofia política e económica de intervenção dotada de um projecto de transformação radical da sociedade. Junte-se a esses dois grandes representantes do materialismo dialéctico um outro lúcido teórico de uma nova economia política - F. Engels - e teremos encontrado o grupo dinamizador das propostas políticas que continuam a agitar as consciências. Esse período permanece como fase nuclear da afirmação teórica do movimento operário, de construção das bases de uma sociedade sem classes. Escolha-se de entre os milhares de páginas disponíveis, apenas uma tese das muitas que foram apresentadas e defendidas. A que descreve o sistema capitalista na sua evolução e define a fase imperialista do capital como estádio supremo do capitalismo.
O capitalismo pré-monopolista foi-se gradualmente transformando num sistema monopolista com expressão política e económica. Legitimada a propriedade privada, o Estado apropriou-se das terras produtivas e entregou-as às classes senhoriais dominantes. Através das guerras de agressão, o sistema expandiu-se territorialmente e acumulou riquezas. Geriu, em benefício dos privilegiados, as revoluções tecnológicas em cadeia, que foram e são fruto do trabalho colectivo e da inteligência humana. Com a criação e exploração intensa dos monopólios, concentrou recursos imensos que a seguir fundiu com o capital industrial, dando origem à formação do capital financeiro e à partilha monopolista do mundo. O governo da sociedade ficou entregue a oligarquias ou famílias de ricos. Instalou-se, desde então, a falsa noção da riqueza e da pobreza como categorias naturais sobrepostas à vontade humana. Nada havia a fazer. Os ricos eram os fortes, os escolhidos, os vencedores, os mais inteligentes e capazes. Os pobres jamais poderiam negar a sua condição natural de fracos e de servidores.
Esta filosofia do desequilíbrio sistematizou-se facilmente nas sociedades feudais, dotando-as de fortes estruturas de direcção. A igreja católica difundiu essa atitude mental. O capitalismo agigantou-se, modernizou-se, resolveu alguns dos seus antagonismos internos mas manteve insolúvel a sua contradição fundamental. É-lhe necessário expandir os seus mercados e manter ou aumentar as taxas de lucro das mercadorias que produz. Para conseguir estes objectivos, necessita de mão de obra barata e de, simultaneamente, estimular a formação de massas humanas com crescente capacidade de compra. Como, porém, conciliar no mercado, força de trabalho barata, concorrência, desemprego, pobreza e lucro? Como privatizar a produção e socializar (ou globalizar) os mercados ?